- Não sei mais o que fazer, alguma coisa dentro de mim que não me deixa parar quieto, parece que minhas mãos e pernas tem vontade própria. Na escola a 'prô' fica brava comigo o tempo todo, manda eu sentar e parar quieto, mas por mais que eu tente, não consigo, quando menos espero, lá estou eu de novo no meio da sala, conversando, brincando ou fazendo alguma coisa que acabei de prometer que não ia fazer mais.
E continua o seu relato cheio de angústia.
- Tento prestar atenção no que a 'prô' está explicando, mas qualquer barulhinho me distrai. Fico "brisando" sem querer. Em casa minha mãe vive brigando comigo porque esqueço as coisas que ela pede pra eu fazer. Ontem deixei minha mãe muito triste quando esqueci no playground o casaco que tinha ganhado no meu aniversário na semana passada. Ela até gritou comigo, quase levei uns tapas. Não sei porque perco sempre minhas coisas. Vivo esquecendo o material da escola, e quando vem bilhete na agenda de que não fiz o trabalho, que fui novamente pra coordenação, minha mãe briga comigo.
E o relato termina com um pedido de socorro: - Queria que você me ajudasse a ser como as outras crianças para que meus pais parem de brigar comigo.
Após conversar com os pais, recebi o Pedro (nome fictício), esta criança que faz este relato. Ele entra no consultório, vê uma mesa cheia de coisa e sem esperar eu dizer nem o meu nome, já foi pegando um brinquedo, que largou em menos de 30 segundos para pegar outra coisa e mais outra. Parecia que nada era interessante o bastante para prender sua atenção. Foi assim que começou nossa primeira sessão.
Conheço algumas crianças como o Pedro, que apresentam falta de atenção, concentração, comportamentos hiperativos, ou seja, com dificuldade de controlar seus impulsos. Essas crianças ao contrario do que se pensa não são preguiçosos, relaxados ou não estão nem aí com nada. Pelo contrário, eles sofrem muito. Em muitos casos ele chegam até o consultório com diagnóstico de TDAH, deficit de atenção ou encaminhados pela escola que já não sabe mais o que fazer com seu aluno que é muito inteligente, mas não conseguem aprender.
O que algumas consideram desleixo, preguiça, falta de interesse pode ser as grades de uma prisão que prende o potencial verdadeiro de uma criança ou adolescente. Esses comportamentos podem ser vistos como um pedido de ajuda de alguém que não suporta mais viver assim, sem a liberdade de fazer suas escolhas.
A atenção e o controle dos impulsos são funções importantes para realizar muitas tarefas e a falta acaba prejudicando muito o desempenho escolar.
Como você, professor pode ajudar este aluno?
Há atividades que promovem a retenção da atenção durante um período de tempo maior. Lembre-se que elas devem ser envolventes. Atividades em grupo costumam dar muito certo. Peça para o aluno que tem mais dificuldades em ficar sentado que o ajude a fazer pequenas tarefas ajudar como distribuir materiais para os colegas de sala, elabore atividades que necessitem de movimentos, assim os alunos também estarão extravasando mais energia. Busque as atividades que melhor o atenda.
Outra saída é procurar a ajuda de um profissional especializado que tenha comprovadamente experiência nesse assunto. Muitos psicopedagogos não possuem conhecimento efetivo sobre TDAH e esses sintomas descritos acima, o que leva a não eficácia de muitos tratamentos.
Uma técnica eficaz que trás resultados rápidos é o Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é um instrumento de intervenção criado por Reuven Feuerstein (Ph.D. em Psicologia do Desenvolvimento da Universidade Sorbonne - França), que tem como objetivo propiciar modificações nas estruturas cognitivas de crianças, jovens e adultos.
Os exercícios propostos pelo programa modificam as áreas cerebrais melhorando a atenção, memória, compreensão de textos e analogias, monitoramento dos erros, raciocínio lógico, comparação e classificação. São trabalhadas mais de 19 funções cognitivas, e como resultado, é possível verificar aumento do quociente de inteligência (Q.I.).
As avaliações neuropediatra e neuropsicológica são importantes, principalmente por que o diagnóstico é interdisciplinar. Lembrando que a opção de medicamentos deve ser muito bem avaliados.
Alessandra Bizeli Oliveira Sartori
Pedagoga - Unopar
Psicopedagoga - Unifev
Mestre em saúde da criança e do adolescente - UNICAMP
Especialista em Reabilitação Neuropsicológica - IPAF
Mediadora de Pei (Programa de Enriquecimento Instrumental) pelo International Institute for the Enhancement of Learning Potential de Feuerstein (Israel)
Extensão em Psicanálise
Docente de cursos de pós-graduação
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